Olá amigos.
Quando eu ainda cursava Direito, minha turma era formada por
alunos participativos, contestadores, encrenqueiros, unidos, etc.....e,
portanto, turma famosa na faculdade e alvo de atenção redobrada dos
mestres...Nosso professor na matéria de Direito Civil era o Prof. Maninho (Dr.
Carlos Eduardo Lobo da Rosa), professor severo (com certa marcação com a nossa
panela do fundo) e havia marcado prova final, motivo para apreensão e muito
estudo.
Eu e meu grupo de estudos - Leon da Costa, Nelsinho Lins,
Paulo Roncaglio, Fernando Peixoto e Alípio Santos - combinamos de cada um
estudar os pontos principais e depois fazer um estudo coletivo.
Eu peguei a lista de pontos (As obrigações - Pontes de
Miranda), e enquanto estudava escrevi uma história bem humorada envolvendo os
termos jurídicos da matéria do estudo.
No dia seguinte levei o texto para o grupo e lhes disse que
minha prova estava pronta...que na hora era só entregar..rsss...eles leram e
caíram na risada, e no dia pouco antes de a prova começar mostraram o texto pro
Maninho - que leu, riu, virou-se para mim e com tom ameaçador disse:
- Está ótimo, mas não ponha isso na prova que te reprovo...
Engoli seco, aceitei o conselho, fiz a prova direitinho e
passei...
A história era a seguinte:
“MONTES DE PIRANDA E
AS OBRIGAÇÕES”.
Meu nome è Montes
de Piranda e sou um semovente da
melhor qualidade, vivia domiciliado em um lindo imóvel com benfeitorias voluptuárias de direito à minha retenção. Para mim, era meu bem infungível no melhor estilo. Eu tinha uma vida tranqüila quanto às obrigações de não fazer.
Porém um dia, meu
usuário confiou e foi aval numa dívida alternativa, e ao prescrever seu prazo, o devedor incorre
em inadimplência. Meu usuário como devedor solidário responde pelo debito
já in debitóris. Qual não foi minha
surpresa quando no momento e local da tradição era
eu o objeto da prestação.
Fiquei assustado,
parecendo um semovente embarcado, pensei a principio tratar-se de comodato, mas depois percebi que era um
negócio jurídico mútuo.
Triste mas
conformado fui ao meu novo domicilio. Era um imóvel velho, sem benfeitorias , e
não me agradava a idéia de neste patrimônio, ter residência com ânimo definitivo, por certo logo haveriam conflitos no tempo e no espaço.
Tive muitas idéias
para me livrar dessa detenção, uma
das quais foi escrever uma carta ao meu antigo usuário, o que fiz nos seguintes
termos:
“Olá devedor
avalista,
quem vos
escreve é o seu antigo melhor amigo, é com tristeza que lhe digo que minha vida
ta osso embora os adore, estou me sentindo como um semovente sem bússola, posto que perdi o rumo. Minha vida não é bem de família, pois desde que aqui cheguei tornei-me um viciado. Estou
muito chegado a vícios de consentimento e vícios sociais, e, ainda, me tornando dipsomaniaco.
Em
relação á minha concubina, ela não
cumpre com suas obrigações de dar,
mesmo porque meu instrumento está caminhado célere para uma evicção, e nas noites em que passo com
ela só praticamos atos jurídicos,
indo ela cumprir com suas obrigações de
dar na rua. Mas ela sempre volta e acabo dando-lhe a remissão pois acho-a relativamente
capaz. Enfim estou me tornando o próprio vício redibitório.
Outro
dia encontrei um semovente amigo
meu, o Blóvis sem Anágua, que deixou de ser guia de cego para estudar Direito,
a quem contei a minha saga, e depois de ouvir atentamente, alertou-me ao que
poderia ser caso de pagamento indevido
onde resolve-se a obrigação, e,
ainda, para checar a identidade do
credor.
Assim
despeço-me, querido devedor avalista,
aproveitando o ensejo para enviar recomendações aos seus descendentes,
ascendentes e colaterais até 4º grau, bem como a seu cônjuge.
Ass:
Montes de Piranda.”
Com os impostos
devidamente pagos no ECT, encaminhei a missiva ao frustrado aval, na esperança de solução através das observações do
Blóvis.
Soube mais tarde
que fora constatado pagamento indevido
como previra Blóvis, no que pensei, esse semoventão vai longe....e soube também
que meu antigo usuário pediu a repetição
do indébito.
Aleluia!!!....bradei
eu...novamente constatou-se a eficácia
das leis...
Após um prazo
exíguo, meu atual usuário levou-me para efetuar a tradição a “D2”. Já de longe avistei meu antigo domicílio, ainda
intacto, sem perdas e danos. Porém o
credor (meu primeiro usuário) não se encontrava em seu domicilio e ainda
ausente do município, e sendo esta uma obrigação
portable, houve por bem efetuar o pagamento
em consignação. Ora esta, que vida de semovente, eu Montes de Piranda,
morando em Juízo.
O tempo foi
passando, eu decadente e domiciliado no Tribunal, tornei-me um semovente velho
e inútil, ficando as partes sem interesse pelo objeto, que sou eu.
Porém nesta vida
tem muita compensação legal sem haver
muita confusão, apesar de não ser rábula, e tampouco togado, mas com algum conhecimento de Direito adquirido consegui um gabinete, pequeno mas aconchegante,
onde com duas estagiarias a transaçãoé
saudável e, assim, espero tranqüilo minha compulsória.
Bem, é isso, tenho
que ir, pois logo partirei para uma vacância merecida na Colônia de Férias.
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Quero deixar aqui uma saudação ao prof. Maninho (sei que as
vezes olha o blog), advogado bem sucedido, mestre exigente, realmente envolvido
com a missão de ensinar e formar em seus alunos uma base de conhecimento
jurídico, consciente de que dela necessitaríamos para trilhar com êxito a
carreira que havíamos abraçado. Com isso conquistou admiração de todos e fez
dos seus alunos, seus amigos.
Hoje tenho o privilegio de desfrutar de sua amizade, e em
inúmeras vezes relembramos das histórias daquela célebre turma de Direito, para
qual muito contribuiu na formação.
Saúdo também os amigos citados, pela amizade que atravessou o tempo.
Saúdo também os amigos citados, pela amizade que atravessou o tempo.
Abraços a Todos,
Armando.
3 comentários:
Que historia cabeluda,hem Tio...mais dificil entender que essas letrinhas aqui dos comentarios...por falar em letras,cidadao letrado esse Tiberio...eu conheco bem o Maninho,e imagino que ele ia mesmo te reprovar..ainda bem que teve juizo,e refugou em cima da hora...hehe...senao nao teria esse diploma de Advogado...parabens pelo conto!!!E pelo 11/08 tambem...
Beleza de história.
Se você me autorizar, vou publicar no meu grupo de Direito.
Abraço.
Pois é guardei esta história por mto tempo...rss
Bons tempos esse de faculdade, a gente era feliz e não sabia...rss
Aliás, acho q sabia...rss
Ok Alemão ta autorizado...
Grande Abraço, Alemão e Cafú
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