“Mas o que é o próprio governo, senão a maior das críticas à natureza humana? Se os homens fossem anjos, não seria necessário governo algum. Se os homens fossem governados por anjos, o governo não precisaria de controles externos nem internos”, afirmou James Madison, quarto presidente dos Estados Unidos.
Assim como um enorme número de brasileiros, sinto-me desiludido e ao mesmo tempo entediado com nossos políticos. Muito difícil assistir ao horário gratuito da propaganda eleitoral, ver e ouvir bobagens e promessas estúpidas ditas por pessoas que na própria expressão facial já não transmitem a menor confiança. Há mais de 50 anos assisto e participo, como cidadão, de nossa vida política. Resta um cansaço, um enorme cansaço, com tanta mediocridade e tão poucos idealistas que realmente pensem em construir um país melhor.
Agora, nestas eleições de 2014, temos mais de 24 mil candidatos a deputados estaduais e federais. Infelizmente, acredito que quase todos querem apenas ganhar um bom salário, não ter compromisso de horário de trabalho, gozar de mordomias, empregar amigos e parentes, enfim, tirar vantagens do cargo e ainda serem respeitados como autoridades. Não os vejo servindo ao povo, antes os vejo servindo-se do dinheiro dos impostos, tirado do povo, para pagar suas mordomias e aposentadorias gordas e precoces.
Esses Robin Hoods às avessas – que tiram de todo o povo brasileiro, pobres ou ricos, o dinheiro dos impostos e o usam quase todo para proveito próprio, devolvendo migalhas em forma de um serviço público de baixa qualidade e quantidade, seja na saúde, educação ou segurança, ou mesmo em leis poucas e bem feitas, capazes de tornar o Brasil um país mais próspero – definitivamente esgotaram minha paciência. Eles me fazem lembrar de Rui Barbosa, político brasileiro idealista, que cito para comprovar que a maioria dos políticos carece de um ideal maior. “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”, disse no Senado Federal em 17 de dezembro de 1914.
Quando unimos a inteligência de Rui Barbosa com a de James Madison, só nos resta concluir que precisamos de governo e de políticos, sim, mas jamais podemos esquecer que nossos políticos não são anjos e precisam ser duramente controlados pela sociedade.
Um povo inculto vive sempre procurando um líder milagroso que resolva todos os seus problemas e recebe sempre, em troca, um oportunista de plantão que tira proveito da ignorância desse povo.
A reforma política é urgente e inadiável, precisamos reduzir o número de deputados, senadores, vereadores e limitar o tempo pelo qual um mesmo cidadão possa ocupar cargos eletivos, acabando com a política como profissão. Um único mandato, uma única vez na vida, já é o bastante para alguém que queira realmente servir à pátria e não servir-se dela. Afinal, todo o povo, com seu trabalho duro, é realmente quem mais serve à pátria, e não é preciso ocupar um cargo eletivo e manipular o dinheiro dos impostos para continuar servindo ao Brasil.
Voltaremos a ter orgulho de nossos políticos quando essas reformas forem feitas. Certamente não teremos mais tantos partidos políticos e será bem mais interessante assistir ao horário eleitoral gratuito. Até lá, haja estômago.
Oriovisto Guimarães é economista e empresário.
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